Vamos lembrar uma paródia da literatura ultrarromântica que, com uma graciosa comicidade, faz uma análise burlesca dos vários estratos sociais em confronto.
Na peça “O Morgado de Fafe Amoroso” de Camilo Castelo Branco, estão personagens fictícias que gostaríamos muito que existissem perto de nós. É o caso de Pôncia, cuja arte de falar o que pensa da forma mais natural possível encanta os diálogos nos quais participa.
Vejamos este exemplo em que Pôncia, muito preocupada com o “menino”, o alerta claramente para esse novo enamoramento que foge ao bom-senso da criada, incapaz de identificar valor no alvo novo do coração do mesmo.
“Pôncia: – E agora queria que eu lhe dissesse mundos e fundos duma tola que anda pelo mundo com uma cabra atrás dela, e vai à uma hora da noite pôr‑se assim de boca aberta a olhar para os planetas?”
Num outro momento, Pôncia fala com D. Vicência e nessa troca de acusações sobre qual delas é a mais reveladora de inteligência, Pôncia recorre à arte da argumentação em estado puro.
“D. Vicência (erguendo‑se para sair.) — Sabe que mais, mulherzinha? Eu não estou para a aturar.
Pôncia — Olhe, minha senhora…
D.Vicência (voltando o rosto.) — Que é?
Pôncia (com um dedo na testa.) — Deus lhe dê miolo. Ninguém é pobre senão de juízo.”
Sendo assim, esperamos que Pôncia nunca fique rouca para continuar a dar voz ao que é importante!
A sugestão musical é da responsabilidade de Diabo na Cruz com “Os loucos estão certos” – (clicar no título).