Os livros que lemos são uma parte de nós. Os livros que lemos e que relembram uma memória coletiva são uma parte de todos.
Nesta obra de José Luís Peixoto, “Livro”, as palavras escritas não são mais do que ecos de um marco na nossa história: a imigração. Todos nós temos um fragmento da nossa identidade formada por aqueles que tiveram de partir.
Já que nos debruçamos sobre os pormenores, sem medo de ultrapassar as fronteiras invisíveis, fomos pedir ao fotógrafo David Ferro que se associasse à nossa viagem pelas páginas destas histórias e dar um cenário fantástico a alguns excertos.
Na primeira fotografia, imaginamos que observamos ao longe Adelaide que “[…]ficou sentada no chão, continuou abraçada à mala, a olhar para os homens que cortavam lascas de pão, ofereceram-lhe um pedaço, recusou, ou a olhar para dentro da noite, desconsolada.” Temos que a acompanhar neste cenário de incerteza em que o sol que se esconde fica em Portugal enquanto ela tem que seguir o seu caminho. Se calhar, Adelaide nunca tinha reparado na paisagem e as oportunidades surgem quando se sentem desejadas, porque são caprichosas. Assim, confirma-se que “É a ausência que faz nascer o pensamento.”
(fotografia cedida por David Ferro)
Nesta segunda fotografia temos a sensação que o céu é uma tela que vai abraçar todos os elementos. Supomos que esta seria a melhor imagem que se pudesse guardar do país natal e aceitar que “O amanhecer apenas se distingue do anoitecer por aquilo que o antecedeu e pela sucessão que lhe imaginamos, o antes e o depois.”
(fotografia cedida por David Ferro)
Somos pessoas que viajam com as forças dos nossos antepassados. Também agora, nós procuramos caminhos para além daqueles que pisamos e precisamos de imagens na memória que reconfortam. Se a esta lembrança tivermos uma palavra de aconchego, o difícil será parar.
Ao David Ferro (clicar no nome para ver o Instagram), deixamos o nosso apreço por se ter juntado a nós e por ter transformado estas frases em imagens que serão lembradas.
Além da nossa interpretação e da visão de David Ferro vamos ainda acrescentar som com “Wonderful Life” (clicar no título) – versão do grupo Smith & Burrows que associamos ao otimismo melodioso.
Nota: os excertos foram retirados da edição de 2010 QUETZAL Editores e José Luís Peixoto