Pai…há muitos!
Na literatura, a figura paternal transforma-se segundo as vontades de um narrador caprichoso que desenha de forma engenhosa a construção de um elemento essencial à narrativa pensada.
Para começar, damos o exemplo do pai de Carlos da Maia, Afonso – “Os Maias” de Eça de Queirós. Homem iluminado pelas ideias modernas que contradizem as certezas de um pensamento extremamente apegado ao Romantismo – muito sentimento apegado ao envolvimento religioso- e que, mesmo assim, deixa que a educação do seu primogénito não siga os seus ideais. Pedro da Maia cresce assim envolto num ambiente imaginado pela sua mãe em que a noção de fragilidade é uma constante.
No entanto, Pedro faz-se homem adulto se os sentimentalismos inconsistentes continuam a dominar a sua vida. Apaixona-se por quem o vai levar para um caminho ainda mas tenebroso. Casados, Pedro vive uma ilusão que cria ao pormenor em que também se transforma num progenitor de duas crianças. Pedro é então pai, fazendo conviver a sua dependência sentimental com esta nova responsabilidade.
Concentrado no seu fracasso enquanto marido abdica de dois dos seus papéis: o de pai e o de filho, e suicida-se. Nesse momento, Afonso da Maia transforma-se num momento aterrador no avô de Carlos a pai-avô desse mesmo neto. Afonso da Maia encarna o pai protetor e preocupado em construir em Pedro e em Carlos personalidades pensantes e capazes de reagir face aos obstáculos.
Outro dos exemplos literários é o pai de Teresa Albuquerque – “Amor de Perdição” de Camilo Castelo Branco, jovem e corajosa. Ao longo da história da sua filha apaixonada, acompanhamos as reações de um pai viúvo que se sente na obrigação de defender o futuro de Teresa nem que para isso tenha que se separar dela. Trata-se de um pai com dificuldade em entender as vontades da filha que entram em conflito com os sonhos que tinha para ela. No fim, Tadeu perde a filha e só o leitor com a ajuda do narrador é que que percebe o inevitável ao longo da obra: a morte.
Outros casos literários haveria para referir. A nossa literatura é rica em histórias onde a figura paternal se destaca. Todos refletem um pouco daquilo que queremos ver nos nossos pais ou as características de personalidade que levam ao conflito. Em todos os pais que gostamos, há um pouco de Afonso da Maia e de Tadeu Albuquerque: proteção, preocupação, desafio, educação, ensino, sonhos. Sim, sonhos.
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