Seguindo os tempos que correm, fomos retirar da prateleira a novela de Camilo Castelo Branco, “A Queda dum Anjo” (publicada em 1866 no Porto). Para os mais esquecidos, não se trata das aventuras de um anjo que foge do Paraíso, mas sim do relato de um fidalgo transmontano, marido que se fez político, que estava embrenhado nos seus ideais retrógrados e que foi incrivelmente corrompido pelos vícios da modernidade.
A trama adensa-se quando passa a viver em Lisboa onde a política tem outra linguagem e, se no início resiste como um herói certo dos seus objetivos, deixa-se pouco a pouco influenciar pelos luxos e prazeres que imperam na capital. Além de adaptar o seu vocabulário, a sua indumentária, também sofre as amargas consequências do amor, relegando para segundo plano a promessa de fidelidade inerente à condição de marido de Teodora.
Calisto Elói é uma personagem que surpreende, porque apesar de abdicar dos seus conceitos moralistas, representa os pecados que cada um de nós vive e que não fazem de nós, mesmo assim, seres tão imperfeitos que não mereçam ser amados.
Fica umas das últimas frases do final da obra: “Caiu o anjo, e ficou simplesmente o homem, homem como quase todos os outros, e com mais algumas vantagens que o comum dos homens.”
Para acompanhar esta novela dos costumes que se continua atual, a nossa proposta vai primeiro para Coldplay com “Viva la Vida” (clicar no título), visto que Calisto Elói de Silos e Benevides de Barbuda experienciou estes versos: “For some reason I can´t explain/ I know Saint Peter won’t cal my name.” A segunda recai sobre um ritmo desafiante: Ricky Martin, “Livin’ La Vida Loca” (clicar no título). Então não é que Calisto Elói se esqueceu que a dama em questão ia fazê-lo transformar-se noutro? “She’ll make you live her crazy life/The girl will drive you right insane”.