Procura-se ladrão sedutor!

A Literatura tem muitos heróis capazes de transformar pesadelos em sonhos, de matar monstros e, claro, de defender a donzela em perigo. São a incarnação da coragem que é uma expressão máxima da capacidade em superar-se através da inteligência e da força que se quer necessária para assumir os valores que protegem. Não existem heróis involuntários (lá estamos nós a fazer afirmações provocadoras, mas já vamos explicar), porque se estão a enfrentar uma situação perigosa e a conseguem resolver, eram heróis antes de o provarem ser.

A obra de Maurice Leblanc apresenta um ladrão que não vai ser repudiado pelo leitor, muito pelo contrário. Arsène Lupin, apesar de ser o mestre do crime, fá-lo de uma forma sedutora, inteligente e criativa, provocando no leitor simpatia. Para esta personagem, tirar o que é dos outros, envolve também a preocupação de uma narrativa que justifica os seus atos. Agora, como é que aceitamos que um ladrão seja motivo de admiração da nossa parte? Não é só porque fala francês (uma mais-valia, claro. Vá, não estejam a torcer o nariz, estamos a brincar). Tem a ver com a sua postura irrepreensível, com o seu à vontade com o seu estatuto de ladrão, com a sua capacidade de ter assumido o seu caminho como sendo uma escolha, sem medo das consequências. Um cavalheiro que torna o ato de roubar numa arte e num desafio constante aos valores que definem as regras sociais.

Todos nós temos dificuldade em resistir a um ser encantador que nos leva a esquecer que não ser honesto em todos os aspetos da nossa vida não é mais do que ser humano.

 Ouçam com muita atenção a banda sonora “Le Secret – Lupin” (clicar no título) de Mathieu Lamboley e, tal como nós, vão reconhecer que o nosso valor passa para além daquilo que querem de nós.

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