Quando a medida do amor ultrapassa a medida da consciência de si próprio

Interessa-nos Pedro da obra Os Maias de Eça de Queirós porque decidimos analisar o momento da sua tragédia pessoal: a sua morte.

 Vamos arriscar e levar para mais longe a imaginação. Façamos de conta que entramos nas linhas da narrativa e estamos mesmo ao lado dele. Em vez de leitores, a proposta é sermos conselheiros e evitar o ato desesperado de um homem que deixou de acreditar nele porque o seu amor já não o ama.

 Estamos no quarto com Pedro e acompanhamos cada gesto, cada pensamento que ocupa com todos os momentos que encheram a sua vida com Maria Monforte.

Pedro descreve devagar a primeira vez que viu a sua futura mulher. A descrição é tão intensa que sugerimos a canção de Maître GimesBella(clicar no título) por causa desta parte “Les gens me disaient: Méfie-toi d’cette fille-là / Elle n’était pas d’ici, ni facile, ni difficile /Synonyme de “magnifique” (tradução livre -” As pessoas diziam-me: Desconfia desta rapariga/ Ela não é daqui, nem fácil, nem difícil / Sinónimo de “magnífica”).

Sem vontade de lutar contra a sedução, deixa-se levar pelo prazer de amar uma mulher que o domina. Incapaz de recuperar a autoridade sobre o seu coração, parece que está a viver em pleno a canção de Pedro Abrunhosa “Não posso mais (clicar no título) Acompanhem esta parte e visualizem Pedro a entoar estes versos “Tu és a fonte do meu desejo (…) / Não posso mais / Viver tentado / Pensar em ti / E querer-te ter sempre ao meu lado (…)Tu és a minha louca fantasia”.

Pedro vive esta fantasia magnífica sempre na ilusão de um amor que existe nos livros felizes e esquece-se da realidade, dos riscos que existem quando a medida do amor ultrapassa a medida da consciência de si próprio. Nós apercebemo-nos do que se passa. Tocamos no braço de Pedro e repetimos alguns versos da canção de Bárbara Tinoco, “Outras línguas(clicar no título ), e com convicção enunciamos: “Mas que se lixem as saudades (…) Não fales de amor que Maria estragou o conceito…”. (adaptação livre da letra original)

Pedro levanta-se e agarra a arma. Tem o olhar muito longe, não está mais triste do que no início da conversa e ainda esboça um sorriso que nos engana. Diz com uma calma que impressiona que se lembra da canção de Stromae, “Formidable” (clicar no título) mas nós só ouvimos este silêncio que antecipa uma desgraça. Pedro nem repara na nossa preocupação e repete a letra da canção: “Formidable, formidable (…) Nous étions formidables” e depois sem pausa acrescenta o que o preocupa “Tu étais formidable, j’étais fort minable”. O silêncio morre com o som de um tiro.

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