Agora que não se pode viajar, restam-nos as descrições de quem usa as palavras com mestria e as imagens de quem tem sensibilidade para a transmissão dos pormenores visuais.
Apresentamos, e confessamos que estamos muito orgulhosos de nós por ter preparado esta parceria, José Saramago com “A Viagem do Elefante” e Diogo Nóbrega (fotógrafo).
O escritor assina uma obra em que o narrador descreve a viagem de Salomão (elefante) até Viena, na Áustria, na qualidade de presente do nosso rei, D. João III, aos representantes máximos dessa outra pátria. Salomão, que é um elefante, não fala e desconhece que se vai transformar “[…] num instrumento político de primeira ordem para o arquiduque de áustria […]”, mas é acompanhado por homens que vão enunciando cada momento desta inusitada viagem que aconteceu em 1551. Um dos homens que merece destaque é Subhro, o cornaca, a quem o nosso rei preferia ter “[…]chamado joaquim quando chegou a portugal.” Preocupações reais dizemos nós que gostamos de partilhar pensamentos.
O autor das fotografias despertou-nos curiosidade sobre se era real ou não personagens literárias terem a oportunidade de serem transportadas para as paisagens que o inspiraram. O desafio foi proposto e assumido com garras de quem se atreve a movimentar as letras e de quem, com a objetiva, prende o momento na sua essência escondida.
Na primeira sugestão fotográfica, lembramo-nos desta passagem: “A paisagem fez-se visível no que sempre havia sido, pedras, árvores, barrancos, montanhas.” em que, tal como as personagens, conseguimos descobrir o que se passa com detalhe depois de a bruma ter desvanecido.
(fotografia cedida por Diogo Nóbrega)
Também nos atrevemos a acrescentar esta legenda “Sempre chegamos ao sítio aonde nos esperam. O Livro dos Itinerários”.
Na segunda fotografia, vemos uma paisagem marcada pelo frio onde se destaca a delicadeza do cenário. Não é difícil imaginar o som das patas gigantescas do elefante Salomão que não sabe, mas: “[…]ao chão convém pisá-lo com mil e um cuidados por causa do maldito gelo, […]”, por isso as aves fogem. Não é porque o sol não aquece. Voam sim, por causa do som dos passos do elefante que ecoam como se ainda pisassem terras quentes, ignorando o efeito sonoro dos seus passos.
(fotografia cedida por Diogo Nóbrega)
As fotografias não retratam só memórias também apresentam desejos futuros e sonhos, por isso agradecemos ao fotógrafo Diogo Nóbrega (clicar no nome para aceder à página oficial) que confiou em nós e aceitou participar nesta aventura.
A melodia para esta viagem vai para uma memória com ritmo, porque Salomão é um conquistador: “Foram mil epopeias / Vidas tão cheias” do grupo Da Vinci (clicar nos versos).
Nota: todos os excertos transcritos são da 11ª edição, Porto Editora.