A data tem um número: 14 e tem um mês: fevereiro, mas não está proibido amar nos outros dias. Talvez esta data só seja útil para lembrar que amar não é só viver, é para se viver (aqui o pronome “se” faz toda a diferença…).
Miguel Torga, no poema “Quase um poema de amor”, provoca o desejo maior de escrever a palavra amor para sentir que ganha vida pelo seu simples reconhecimento.
E mais vale um “quase amor” do que “nenhum amor”, porque seria “metade viver” antes de “totalmente morrer”.
“Quase um Poema de Amor”
Há muito tempo já que não escrevo um poema
De amor.
E é o que eu sei fazer com mais delicadeza!
A nossa natureza
Lusitana
Tem essa humana
Graça
Feiticeira
De tornar de cristal
A mais sentimental
E baça
Bebedeira.
Mas ou seja que vou envelhecendo
E ninguém me deseje apaixonado,
Ou que a antiga paixão
Me mantenha calado
O coração
Num íntimo pudor,
— Há muito tempo já que não escrevo um poema
De amor.
A atenção ao amor está no mais simples, basta ficar, como é cantado em “Stand by me” por Ben E.King (clicar no título).